07/08/2008

Rosa carmim


Sai de mansinho de casa. Bem arranjada e penteada. E perfumada como convém. O pó solto sobressai-lhe as maçãs do rosto ameninado. E nos lábios um toque de batom de brilho acentua o sorriso rasgado que a caracteriza.
Na rua ninguém fica indiferente à sua presença.
"Boa tarde menina!", ouve-se à sua passagem. Ela sorri, acena docemente e continua o seu caminho em passos largos. Vai procurar a felicidade, revelava o seu pequeno diário. E como a alegria transbordava das suas palavras.. Mas Rosa nunca foi sábia na escolha das suas paixões. Nestas coisas o coração é quem manda e isso não podemos contrariar, dizia.
Rosa chega finalmente ao seu destino. O relógio marca 10 minutos antes da hora marcada. Rosa não perde tempo e de espelhinho em punho, ajeita os seus rebeldes caracóis cor de canela. Sorri e olha novamente ao relógio. Passa as mãos levemente pelo vestido e aguarda anciosamente que os dez minutos corram.
14h00. O coração bate em ritmo acelerado e as mãos transpiram. Rosa está impaciente. São 35 anos à espera do amor eterno, como teima em lhe chamar. Não quer acreditar que esta seja mais uma rasteira da vida. Não será. Os segundos esfumam-se e o Francisco teima em não aparecer. 14h30. Nem sinal. Rosa tira da mala um pequeno papel amaxucado e torna a ler o rascunho da mensagem que lhe tinha deixado em letras miudinhas: "Às 14h00 espero-te no jardim do sol nascente. Com saudade, Rosa carmim."
Era tudo tão perfeito! Tinhamo-nos visto a primeira vez num final de tarde na praia. Lembro-me do seu tom de pele dourado. Dos cabelos molhados a pingar água salgada na minha cara quando nos conhecemos. Desde esse dia tinha pouco nos tínhamos visto. Trocávamos mensagens de desejo. Calorosas. Estava apaixonada e apesar de resistir a todas as tentativas de contaco mais próximo, o desejo tornava-se incapaz de controlar. O medo e a mágoa do passado não me deixavam continuar. Mas, naquele dia o impulso de Francisco fora mais forte. O beijo aguçou o desejo e a noite pareceu não ter fim. Não estava em mim. Ao chegar a casa ainda trazia o seu cheiro entranhado na minha pele. O sorriso transbordava da minha face. Deitei-me ainda no sonho e desejei que aqueles momentos se tornassem a repetir, muitas e muitas vezes.
15h05 e Rosa continua sozinha. O vestido está feito num trapo das vezes que já se sentou e levantou em desespero. Na mão direita segura de punho cerrado o pequeno papel amaxucado. De olhar perdido no vazio, Rosa regressa a casa em passo curto e pesado.
"Boa tarde menina!", ouve-se à sua passagem. Rosa prossegue de cabeça baixa. Entra em casa de mansinho, abre o seu pequeno diário e escreve: "O meu sonho já não mora aqui. Rosa carmim".

1 comentário:

Anónimo disse...

Margarida
as tuas palavras fluem com uma facilidade...fico sempre "a abanar" quando leio os teus textos...por isso quis vir afirmar o quanto fico espantada com a tua versatilidade.
Muitos parabens...adorei a Rosa Carmim
bjs
Abelha Maia

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